O uso da argila como método terapêutico

A argila como método terapêutico

Por Maria da Glória Cracco Bozza

Crédito do desenho na imagem: Maria da Glória Cracco Bozza

A psicoterapia é o encontro entre o psicólogo e o sujeito que busca alívio para algo que o faz sofrer, como também a busca pelo autoconhecimento.

A graduação em Psicologia leva cinco anos, repassando aprendizados teóricos e práticas, em várias áreas, tais como: clínica, organizacional, escolar, hospitalar, comunitária e outras.

Muitas são as abordagens teóricas que irão fundamentar as práticas terapêuticas na clínica, entre elas podemos citar algumas: psicanálise, terapia comportamental, psicodrama, terapia sistêmica, gestalt terapia. Pode ser realizado em sessões individuais, casais, famílias, grupos, nas diferentes faixas etárias e com as mais variadas queixas.

Todos os profissionais que realizam psicoterapia, independente da abordagem teórica que sigam, terão um único objetivo, o de auxiliar quem os procura, levando o sujeito à minimização de seus conflitos, suas dores e a busca por mudanças.

São encontros entre o terapeuta e aquele a quem se destina o processo terapêutico. Inicialmente é realizada a avaliação, podendo ser só por conversas ou pela utilização de testes psicológicos. A continuidade do processo pode ser realizada apenas por conversas ou somada com outros recursos terapêuticos.

Para a melhor realização de tais processos, cada profissional terá uma forma de propor o trabalho terapêutico, variando pela linha teórica que o organiza em suas práticas, pela sua individualidade como sujeito e também pelos recursos que utilizará para auxiliá-lo.

Entre os recursos utilizados, podemos citar o Método Argila: Espelho da Auto-Expressão, em que o sujeito é convidado a realizar algo com o material argila, podendo ali expressar algo de si, e que terá relevância dentro do que para ele representa e significa. Ao terapeuta caberá somar com a história do sujeito e juntos entenderem os significados.

Além disso, poderá auxiliar no trabalho de sua autoestima, pois o sujeito acreditou que naquele pedaço de argila, algo poderia ser criado e terá valor no trabalho terapêutico, por ter sido pensado e elaborado por ele, na sua individualidade e originalidade, nem que seja uma bolota ou uma massaroca.

Tais elaborações podemos chamar de esculturas metafóricas, as quais sinalizam e transportam os significados e mensagens do objeto construído com as questões de vida e os conteúdos internos de seu autor. Favorece trazer para fora de forma lúdica o problema que assola o sujeito. Poderia comparar as metáforas como o aplicativo do celular que nos guia pelas ruas, dizendo qual a quilometragem, o tempo, o fluxo do trânsito e qual as ruas a serem seguidas. Dá um mapeamento geral ou mais próximo de onde estamos, e vai nos guiando. Assim é o trabalho com as metáforas, de forma concreta e simples, ajuda o sujeito e o terapeuta no entendimento das questões trazidas no processo de autoconhecimento.

As falas do sujeito e a forma como confeccionará a escultura também podem ser entendidas como metáforas. Ampliam os significados das questões de sofrimento trazidas pelo sujeito e vão além daquilo que está sendo visualizado, sem muito ser falado, pois ali já está concretizado. Organiza e harmoniza os conteúdos, integrando-os.

Exemplificando um caso em que o sujeito traz a dificuldade em ir em frente e deslanchar na vida. Na sessão de argila realiza um quadrado. Ou seja, um quadrado não rola, fica fixo em um dos lados, pode até se movimentar com a ajuda de alguém, e será um movimento truncado de um lado para o outro. Poderia então ser visto com o sujeito o que precisaria ser feito para melhor rolar como uma bola. Aparar os lados e ir deixando cada vez mais próximo de uma bola. E assim, transpor para a sua própria dificuldade de não ir em frente, e o que precisaria ser aparado para melhor rolar e seguir.

Lembrando que a confecção de algo em argila fora da terapia, tem seu valor terapêutico pelo manusear no barro e algo ali criar. Porém, só terá um valor de autoconhecimento dentro de um processo terapêutico, em que ali seja contextualizado e entendido no processo de terapia.

Portanto, o recurso concreto e que materializa a fala do sujeito metaforicamente, é a máxima do método Argila: Espelho da Auto-Expressão, e que muito auxilia para o entendimento e as saídas possíveis de questões de sofrimento do sujeito que busca a terapia.