O que são os psicofármacos?

Psicofármacos, psicotrópicos ou psicoativos

Por Flávio Vervloet

Os psicofármacos são substâncias que possuem efeito nas atividades psíquicas. São também chamados de psicotrópicos ou psicoativos. “Os psicofármacos são substâncias que alteram a atividade psíquica, aliviando sintomas dos transtornos mentais ou promovendo alterações na percepção e no pensamento.”1

“… embora exerçam efeitos profundos e benéficos sobre a cognição, no humor e no comportamento, os medicamentos psicotrópicos geralmente não mudam o processo da doença subjacente, que, como frequências, é muito sensível aos estressores intrapsíquicos, interpessoais e psicossociais. Em regra, os resultados benéficos podem ser obtidos simplesmente pela redução dos sintomas e pela simultânea promoção da capacidade do indivíduo em se adaptar às exigências da vida.”2

“O uso de psicofármacos no tratamento dos transtornos mentais, a partir dos anos 50, mudou radicalmente a falta de perspectivas que até então prevalecia no campo da psiquiatria e da saúde mental, provocando uma ampla reformulação das concepções e práticas vigentes, de tal forma que na atualidade, conhecer os medicamentos existentes, as evidências que embasam seu uso, são essenciais para um efetivo trabalho nestas áreas, mesmo para aqueles profissionais que se dedicam preferencialmente à prática psicoterápica”.3

“Para muitos transtornos os medicamentos são o tratamento preferencial, como na esquizofrenia, no transtorno bipolar, em depressões graves ou no controle de ataques de pânico. Em outros, como nas fobias específicas, transtornos de personalidade e problemas situacionais, por exemplo, as psicoterapias podem ser a primeira opção. Além disso, em muitas situações o ideal talvez seja a combinação de ambos os métodos”3.

Na prática clínica, o médico procurará escolher dentre os medicamentos disponíveis, os que se confirmaram ser eficazes para o transtorno que o paciente apresenta, e também o que se mostra mais apropriado, levando em conta múltiplos fatores: o diagnóstico psiquiátrico, a somatória dos sintomas presentes, a existência de comorbidades (mais de um transtorno mental ao mesmo tempo), a genética familiar, o tipo de metabolismo do indivíduo, as reações anteriores ao medicamento a ser prescrito ou uso de outros psicotrópicos, a condição psicossocial do momento, o uso de outros medicamentos para doenças em outros sistemas orgânicos, a idade e as condições individuais específicas.

Uma vez escolhido o medicamento e definidos os sintomas-alvo, o médico elaborará um plano de tratamento que envolve a fase aguda, a manutenção e as medidas para prevenção de recaídas. Além disso, estudará a necessidade ou não de associar outras estratégias terapêuticas. Com essas decisões e alternativas traçadas, irá expor seu plano de tratamento ao paciente e, se necessário, aos seus familiares, bem como fazer uma psicoeducação sobre a natureza do transtorno, as reações comuns e possíveis ao uso do medicamento proposto, o que se espera de respostas com o seu uso, o tempo necessário para se observar as melhoras, os possíveis efeitos indesejáveis e as medidas que podem ser adotadas para manejar e reduzi-los, além de responder as dúvidas que surgirem. Esses procedimentos auxiliam na adesão ao tratamento e evitam interrupções precoces do tratamento.

O tratamento com psicofármacos se baseia em evidências resultantes de estudos rigorosos para a constatação de sua eficácia clínica nos tratamentos dos transtornos mentais. Apesar desse cuidado, cada substância tem suas particularidades e a comprovação da eficácia de um psicofármaco para uso nem sempre garante a sua viabilidade nos tratamentos. Alguns costumam provocar mais efeitos colaterais do que outros e, portanto, é necessário avaliar a condição de riscos/benefícios ao prescrever um determinado medicamento.

Dessa forma, é importante compreender que o tratamento psicofarmacológico não se baseia somente em ciência, mas também na arte do manuseio e da prescrição, considerando as particularidades individuais das pessoas que farão uso desses medicamentos.

Além das evidências em pesquisas e a arte de lidar com as variáveis clínicas acima citadas, há ainda o fato de ocorrerem as chamadas reações comuns ao uso desses medicamentos. Várias dessas reações, no entanto, não são efeitos colaterais e podem ocorrer durante o uso de qualquer psicofármaco prescrito.

Juntamente com a dificuldade no manejo dos efeitos colaterais e do efeito das interações medicamentosas, essas reações comuns estão entre as grandes responsáveis pela não adesão e pela desistência do tratamento psicofarmacológico, fator que pode levar a complicações no transtorno tratado e, consequentemente, ao maior risco de prejuízos funcionais, profissionais, sociais, familiares e financeiros.

1. Mario Rodrigues Louzã Neto e Hélio Elkis, Psiquiatria básica, Artmed
2. Alan F. Schaztzberg; Jonathan O. Cole Charles DeBattista, Manual de Psicofarmacologia Clínica, Artmed
3. Aristides Volpato Cordioli, Artigo – Psicofármacos nos Transtornos Mentais