Por Paula Coury
É aconselhável usar máscaras de proteção que viabilizem o convívio social. É recomendável ter mais de uma máscara e trocá-la com frequência. Há momentos em que é imprescindível retirar a máscara. E, desde que seja feito de forma segura, isso é, inclusive, muito importante. Caso contrário, de item de proteção, a máscara é que pode se tornar uma ameaça.
Toda essa conversa sobre máscaras pode se referir a formas de prevenção contra o corona vírus. Mas também refere-se a muito mais do que isso! Em nossa vida, precisamos nos adaptar a vários ambientes sociais e desempenhar diferentes papéis, segundo cada contexto. Há momentos em que atuamos como profissionais, mães/pais, filhos, amantes, eleitores, consumidores, entre tantas outras possibilidades.
A forma como exercemos cada um desses papéis sociais está ligada ao que Carl Jung chamava de “persona” – palavra que, em sua origem, designava a máscara usada por um ator, indicando o papel que ele iria desempenhar. Construímos nossas personas a partir de ideais do que pensamos que deveríamos ser e como gostaríamos que os outros nos vissem.
Apesar de aparentar uma individualidade, a persona representa, na verdade, um compromisso entre o indivíduo e a sociedade acerca daquilo que alguém parece ser. Não é necessariamente uma mentira, uma farsa. Mas é, na melhor das hipóteses, uma verdade parcial. Pois, de tudo aquilo que somos, a persona é uma parte bastante restrita que escolhemos mostrar ao mundo em um dado contexto.
É importante construir com consciência nossas personas, para que possamos usá-las e não sermos usados por elas. O perigo está em acreditarmos que essa pequena parte à mostra, representa realmente tudo o que somos. Mais grave do que enganarmos os outros quanto a isso, é nos auto-convencermos sobre essa mentira. Assim, nos tornamos incapazes de enxergar e acolher nossa completude.
A persona é como se fosse a roupa que veste o ego. E um grande problema é quando nosso guarda-roupas fica igual ao da Turma da Mônica. Ou, então, quando nos identificamos a tal ponto com um papel que, de roupa, ele se torna uma camisa de força, da qual não conseguimos nos libertar. Passamos a acreditar que há somente uma forma de reagir às diversas circunstâncias da vida e, disso, advém muito de nosso sofrimento.
Entre as várias lições que podemos aprender com essa pandemia, uma muito importante é que as máscaras só nos protegem quando são trocadas com frequência. Que tal aproveitar o tempo extra em casa durante a quarentena, para fazer uma faxina nesse “guarda-roupas” de personas que você anda vestindo em sua vida? Quantas ainda te servem e quantas estão tão apertadas que é preciso segurar o fôlego para fechar o zíper?
E se você já tentou sair por aí usando uma máscara para se proteger do vírus, também já deve ter percebido que é um grande alívio chegar em um ambiente seguro, onde pode despir-se dessa proteção. E aí, fica mais uma reflexão: em quais situações de sua vida você pode se permitir ser quem é de verdade, abrindo mão das máscaras? Você tem a coragem de se mostrar e, principalmente, de se enxergar assim, sendo quem é de verdade?